sábado, 2 de junho de 2012

Sistemas de Informações Geográficas como apoio ao escritório de projeto (PMO)




Sistemas de Informações Geográficas como apoio ao escritório de projeto (PMO)


Resumo. Este artigo apresenta uma proposta de utilização de técnicas de geoprocessamento como ferramenta de apoio para escritórios de projeto (Project Management Office) em uma organização madura. Apresenta como as ferramentas de geotecnologias podem auxiliar o PMO no desenvolvimento de projetos e o seu gerenciamento a fim de atender os seus objetivos, identificando geograficamente recursos, projetos e stakeholders (partes envolvidas) realizando analises espaciais, para auxiliar a logística dos projetos bem como na disponibilização de recursos e mapeamento de todos os envolvidos.

1. Introdução
1.1. Contextualização
Tem sido crescente a necessidade das organizações com bons níveis de maturidade a implantação de escritório de projetos (Project Management Office – PMO); Com o objetivo principal de ser responsável pela qualidade e previsibilidade em geral dos projetos na organização, o PMO deve garantir e fornecer suporte aos projetos das organizações, ser responsável pela metodologia de projetos a ser utilizada, fornecer treinamentos aos gerentes de projetos, administrar as ferramentas de gerência de projetos, analisar riscos dos projetos, realizar o alinhamento estratégico dos projetos com os objetivos da organização entre outros.
Segundo (KERZNER, 2001) A principal responsabilidade de um PMO é a integração dos esforços em gerenciamento de projetos, através das linhas funcionais da organização, no auxílio aos gerentes e equipes de projetos, permitindo alcançar um determinado grau de efetividade nos projetos. A implementação e operação do PMO, ou de uma maneira mais ampla, a adoção cultural de conceitos de gerenciamento de projetos, implica em mudanças organizacionais; no modo como a empresa planeja, executa e controla seus projetos. Associado ao aspecto cultural está a limitação de recursos, sejam eles materiais ou relacionados à capacitação e disponibilidade de recursos humanos.
Fica evidenciado que a disponibilidade e a capacitação de recursos humanos são preocupações que devem ser geridas pelos escritórios de projetos. Portanto a utilização de ferramentas que auxiliem na logística, identificação geográfica e na representação espaço-temporal é de grande importância.
No decorrer dos últimos anos o mundo da tecnologia da informação e comunicação tem passado por importantes e aceleradas evoluções. Como conjunto de inovações tecnológicas, o geoprocessamento tem também se transformado ao longo dos últimos anos. O geoprocessamento é a tecnologia capaz de agregar áreas importantes
como a informática e a geografia no suporte a decisões onde a localização tem relevância para o negócio.
O principal objetivo do geoprocessamento é disponibilizar ferramentas informatizadas para que diferentes atores determinem a evolução espacial e temporal de um fenômeno geográfico e as inter-relações entre diferentes fenômenos. Tomemos um exemplo: ao analisar qual seria o melhor local para o desenvolvimento de um projeto, pode ser levado em consideração à localização das partes interessadas, ou dos recursos humanos e materiais disponíveis ou até, relacionada à região geográfica ideal para o projeto (urbanização, clima, situação sócio-econômica, entre outras).
Em todas as áreas de negócios o posicionamento ou o comportamento de um elemento espacial, fixo (postes, imóveis, etc) ou móveis (Automóveis, pessoas, etc), naturais (chuvas, temperatura, etc) ou artificiais são importantes para a tomada de decisão. Como saber a probabilidade de chuva em um evento de um projeto, se não conhecermos o comportamento da precipitação, seu histórico e o posicionamento dos elementos (nuvens, montanhas, temperatura, etc) diretamente relacionados? Para responder esses e outros questionamentos, que sempre deparamos em diversos projetos podemos utilizar como apoio uma ferramenta de geoprocessamento.
Esse tipo de relação, onde a posição geográfica de um elemento no espaço pode ser comparada com outros é chamada de análise espacial. Alguns exemplos de análises espaciais típicos de um sistema de informação geográfica (SIG) estão apresentados abaixo (adaptação de Maguire 1999).


Analisemos uma possibilidade muito provável para a explicação do conceito acima. Na região onde existem muitos projetos assistidos pelo PMO existe uma grande restrição de locais para execução de reuniões de projetos, assim como meio de transporte e malha viária disponível, numa situação onde existem diversas partes interessadas e inúmeras reuniões de projetos para serem realizadas. Imagine ainda que o custo de locomoção das partes interessadas possa ser medido em financeiro ou hierárquico. Exemplos, no caso financeiro seria o valor total de um integrante da parte interessada se locomover do seu endereço até os locais das reuniões, isso somando o fato de existir “baldeação” em diversos tipos de meio de transporte existente; no caso hierárquico é mais difícil entender, mas é de fundamental importância, seria diferente, por exemplo, de o patrocinador do projeto estar em um local de uma reunião as 08:00 da manhã há 15 Km de seu endereço e de um estagiário ter o mesmo cenário, o impacto hierárquico entre essas cenário é diferente, situações como essas devem ser pensadas para que a gestão seja possível.
Agora imagine que você possui a malha de linha viária, mapas de rotas de ônibus, mapa de localidades com salas disponíveis para locação, mapas de localização de todas as partes interessadas, mapas de tipos de meio de transporte e utilize uma ferramenta de sistemas de informação geográfica para que consiga encontrar o melhor local para uma reunião, considerando os envolvidos, nível hierárquico, custo, logística, entre outros. Imagine ainda que você possa qualificar as partes interessadas e pode realizar simulações diversas de acordo com a necessidade do projeto.
Sempre que exista a necessidade de se analisar o comportamento e a distribuição espacial de algum elemento no espaço geográfico, seja ele em trânsito ou não, seja ele um fenômeno ou não, podemos utilizar a ferramenta de análise espacial para apoiar a tomada de decisão.
O desenho da Figura 1 abaixo mostrar através de desenho uma situação utópica para demonstrar possibilidade entre a localização de partes interessadas e locais potenciais para realizar uma reunião de projetos. As figuras que representam um boneco em preto representam localização de partes interessadas enquanto as figuras de casas com telhado vermelho identificam locais possíveis para realizar a reunião.



Nesta situação haverá considerável ganho de qualidade na logística do projeto, no custo da conta relacionada a deslocamento, diminuição de desgastes com partes interessadas de alto nível hierárquico e aumento de possibilidades de escolha através da tecnologia de simulações de situações.
Para utilizar digitalmente as entidades do mundo real, existem três representações de elementos geográficos primário: O ponto, a linha e o polígono

  • Pontos
    • Os pontos são utilizados para as entidades geográficas que melhor podem ser expressas por um único ponto de referência. Em outras palavras: uma simples localização. Por exemplo, as localizações dos postes de luz, picos de elevação ou pontos de interesses. Os pontos transmitem a menor quantidade de informação e não possui medições, apenas posicionamento através de um par de coordenadas X e Y. Também podem ser utilizados para representar zonas/áreas em uma escala pequena. Por exemplo, as cidades em mapa d mundo estarão representadas por pontos em lugar de polígonos.

  • Linhas ou múltiplas linhas
    • As linhas unidimensionais ou linhas múltiplass são usadas para desenhos lineares como rios, caminhos, ferrovias, ruas, linhas topográficas ou curvas de nível. Diferente dos pontos as linhas são dotadas de medições, que neste caso são o comprimento linear do desenho específico. De igual forma que as entidades pontuais, em pequenas escalas podem ser utilizadas para representar polígonos.

  • Polígonos
    • Os polígonos bidimensionais são utilizados para representar elementos geográficos que cubram uma área particular da superfície da terra. Estas entidades podem representar lagos, limites de parques naturais, edifícios, estados, ou os usos de solo, por exemplo. Os polígonos transmitem a maior quantidade informações e com eles podemos medir a área e os perímetros do desenho.

Este artigo demonstra o benefício para o PMO no uso de geotecnologias bem como apresenta uma proposta para solicitação analise espacial e possibilidades para o seu uso objetivando o auxilio nas tomadas de decisão de um escritório de projeto.
Existem muitas iniciativas do envolvimento computacional em gerenciamento de projetos, assim como a geotecnologia, muitas outras especialidades computacionais são de grande impacto para uma organização, que muitas das vezes não estão preparadas para utilizarem ou gerarem conhecimento através da sua utilização.
Segundo [Davis 2002], o grande desafio que se apresenta para os SIG na próxima década é o da simplificação do uso. É preciso tornar o acesso e a manipulação de dados geográficos mais simples e mais intuitivos para as pessoas, inclusive para reduzir um pouco a enorme necessidade de formação de pessoal que se observa hoje.
O objetivo deste artigo é apresentar as vantagens de um escritório de projetos em utilizar um sistema de informação geográfica e propor um desenho de processo para facilitar essa utilização.
Um processo é um conjunto de passos parcialmente ordenados, constituídos por atividades, métodos, práticas e transformações, usado para atingir uma meta. Esta meta geralmente está associada a um ou mais resultados concretos finais, que são produtos da execução do processo [Pádua 2003].

2. Trabalhos Correlatos
Muitas iniciativas têm trabalhos na aplicação de métodos computacionais para amentar benefícios durante o gerenciamento de projetos. Essas iniciativas estão ligadas a cálculos de estimativas, apoio no planejamento entre outros.
Em 2010, no site de tecnologias relacionadas a geoprocessamento geoinformação online (http://geoinformacaonline.com/index.php?option=com_content&task=view&id=477) é apresentado um case do uso gerenciamento de projetos integrado ao sistema de informação geográfica. Neste trabalho apresentou-se um estudo de caso de uma customização da ferramenta corporativa de gerenciamento de projetos da Microsoft, o EPM, para possibilitar o georreferenciamento de todos os projetos da organização na sua criação, ou seja, não existe a possibilidade de criar projeto corporativo sem antes identificar um ponto geográfico distribuído no espaço para esse projeto.
Apesar de ter evoluído na integração de tecnologias, e a sua grande importância na demonstração técnica desse novo modelo, esse trabalho não se beneficia do potencial que uma ferramenta de geotecnologia provê, por exemplo, utilizar análises espaciais para cruzamento de informações.
O presente trabalho se diferencia do mencionado pela utilização de técnicas de geoprocessamento, como análise espacial para indicar possibilidades e benefícios que podem ser utilizados em um escritório de projetos, possibilitando uma avaliação destas informações e agilizando o processo de análises sucessivas.

3. Proposta de como o SIG pode apoiar o PMO
3.1 Conceitos básicos
O termo Geoprocessamento pode ser separado em geo (terra – superfície – espaço) e processamento (de informações – informática). Desta forma, pode ser definido como um ramo da ciência que estuda o processamento de informações georreferenciadas utilizando aplicativos (SIGs), equipamentos (computadores e periféricos), dados de diversas fontes e profissionais especializados. Este conjunto deve permitir a manipulação, avaliação e geração de produtos (geralmente cartográficos), relacionados principalmente à localização de informações sobre a superfície da terra.
Os mapas e cartas topográficas, quando transformados em imagens, fornecem informações preciosas para o geoprocessamento. Normalmente são usados como fonte de dados para o mesmo e se beneficiam das informações geradas por este. Muitos mapas estão disponíveis no formato analógico (em papel). Estes podem ser convertidos para o formato digital utilizando-se scanners. Neste caso, deve-se tomar cuidado com a resolução adotada no processo de conversão, buscando-se evitar resoluções muito baixas, o que pode comprometer a qualidade das informações. Também deve-se analisar bem o uso de resoluções muito altas, pois muitas vezes as mesmas não agregam qualidade ao produto, aumentando somente o tamanho dos arquivos gerados. Este problema pode ser evitado, calculando-se a resolução em função da escala dos mapas, cartas ou fotografias aéreas e adotando-se esta para a definição da resolução do produto digitalizado.

3.2 Características de um sistema de informação geográfica
Um Sistema de Informação Geográfica é um sistema de informação baseado em computador que permite captar, modelar, manipular, recuperar, consultar, analisar e apresentar soluções com dados geograficamente referenciados, dados estes que estão armazenados em um banco de dados. À consulta destes dados pode ser espacial ou por atributos.
Em geral a consulta de dados espaciais, geralmente responde a questões que têm a ver com a geografia do dado, portanto, não necessita de ter atributos contidos no banco de dados com o objetivo de saber quais seriam os imóveis que fazem vizinhança com o escritório de projetos. Os relacionamentos espaciais consideram o posicionamento do elemento no espaço, por isso as consultas espaciais utilizam relacionamentos entre objetos no espaço geográfico.
Consulta por atributos, é relacionada com valores descritivos do dado armazenado no banco de dados. Exemplo, “mostre quais os projetos que tem o faturamento acima de três milhões de reais.”.
Os sistemas de informação geográficos então passam a ser ferramenta fundamental para realização de análises espaciais contemplando buscas alfanuméricas em conjunto com consultas espaciais.

3.3 Processo proposto
A utilização de analise espacial inicia-se quando o escritório de projetos recebe a demanda e qualifica a demanda para que seja viabilizada a análise.
A finalidade da análise é verificar a necessidade de utilização de geoprocessamento para apoiar a requisição.
Após a definição do uso de geoprocessamento o requerimento é passado para o Analista de geoprocessamento para definir qual tipo de análise será utilizada para a demanda.
É utilizado então um sistema de informação geográfica (SIG) para a execução da análise definida pelo analista.
Após a execução da análise o analista de groprocessamento avalia o resultado da execução da análise para responder para o escritório de projetos.
O Escritório de projetos recebe a análise solicitada e conclui o processo.
Esse processo pode ser repetido por diversas vezes até que a saída atenda a requisição inicial.
Abaixo é mostrado o diagrama do processo proposto



3.4 Possibilidades de uso
Com o processo definido podemos pensar inicialmente em algumas alternativas para o uso.

  • Localização
    • Adquirir características de um lugar concreto para o projeto;
  • Condição
    • Cumprimento ou não de condições impostas aos elementos distribuídos no espaço que devem ser levado em consideração nos projetos.
  • Tendência
    • Comparação entre situações temporais ou espaciais distintas de alguma característica.
  • Rotas
    • Cálculo de caminhos ótimos entre dois ou mais pontos para otimização dos deslocamentos nos projetos.
  • Modelos
    • Geração de modelos explicativos a partir do comportamento observado de fenômenos espaciais.
3.4.1 Exemplos
Essas possibilidades de uso podem ser facilmente vistas nos mapas a seguir explicados:
Mapa 1: Simulação de evento no projeto e seu impacto durante o tempo; na faixa laranja concentra o impacto durante a primeira hora e na faixa amarela durante a segunda hora da ocorrência


Mapa 2: Simulação de movimentação em uma região utilizando mapa de visualização em 3D contendo características do percurso a ser percorrido.


Mapa 3: Mapa temático por bairro com a distribuição de concentração da população. Neste caso podemos ter a compreensão espacial da distribuição da população no território que será realizado o projeto.


4. Conclusão
Existem várias possibilidades da utilização do Geprocessamento e especificamente a análise espacial em escritórios de gerenciamentos de projetos. Sempre que “onde” for uma pergunta para seu negócio os sistemas de informação geográficos apoiaram na solução, auxiliando a tomada de decisões.
Em todas as áreas de negócios o “onde” é importante. Não se gerencia uma empresa de saneamento sem saber “onde” estão as redes coletoras de esgoto e de distribuição de água, não se gerencia uma prefeitura sem saber “onde” estão os serviços públicos, não se gerencia uma montadora de veículos sem saber “onde” estão os potenciais clientes para consumir específicos automóveis e não se gerencia uma empresa de seguros sem saber onde estão às áreas de riscos e com os maiores números de sinistros recorrentes.
O estudo que foi descrito neste artigo permite ao leitor ter uma visão geral do processo, o seu apoio pelo sistema de informação, como também, os atores necessários. Essa proposta auxilia no desenvolvimento de aplicações de geoprocessamento para atendimento e apoio a escritório de projetos.
Como em todo processo que tenha tecnologia deve-se considerar todos os elementos envolvidos para que se tenha sucesso.
Um Sistema de Informação Geográfica é um sistema de hardware, software, informação espacial e procedimentos computacionais que permite e facilita a análise, gestão ou representação do espaço e dos fenômenos que nele ocorrem. Portanto para que a análise proposta neste processo tenha sucesso todos esses aspectos devem ser considerados. Não adianta o melhor sistema do mundo se o recurso humano não se encontra treinado ou se o hardware é incompatível.
Finalmente, a grande contribuição que o trabalho trouxe está relacionada à agilidade que o Sistema de informação geográfica fornece, associando rapidamente o ponto em análise as diversas áreas fornecendo respostas úteis aos escritórios de projetos.

5. Agradecimentos
Os colaboradores agradecem pelo apoio do professor do CBA de Projetos do IBMEC, Lincoln Fimino, pela oportunidade para elaboração desse artigo

6. Referências Bibliográficas
KERZNER, H. Project management: a systems approach to planning, scheduling,and controlling. Ohio: John Wiley & Sons. 2001
Davis Junior, C. A. Geoprocessamento: Dez Anos de Transformações. IP. Informática Pública, Belo Horizonte (MG), v. 4, n. 1, p. 17-24, 2002.
Pádua Filho, W. P. Engenharia de Software – fundamentos, métodos e padrões. Rio de Janeiro, LTC, 2003.

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